quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A casa dos seres que possuem guelras em vez de pulmões


(exercício de rescrita de O Aquário, sem utilizar o "i")



Num belo espaço repleto de água, moravam três seres da cor do mar, com guelras que em vez de pulmões. Nadavam os três sempre contentes, até que o dono do receptáculo, um jovem rapaz trouxe um novo ser com escamas e guelras para as mesmas águas. Era um belo ente vermelho e luzente, porém a sua beleza trouxe-lhe contratempos. Ele nadava sempre só e não se chegava ao sustento, com medo dos outros três. Ele estava quase já só uma sombra, quando chegou um novo morador. Tratava-se de um ser grande, sabedor, negro e com duas barras vermelhas. Depressa, se tornaram bons colegas. Almoçavam e folgavam juntos, para grande mágoa dos outros três. Mas algo correu mal e os seres de escamas e guelras adoeceram. Só o vermelho aguentou e ajudou todos os outros. Ele esfalfava-se a tentar amparar todos, mas as suas forças começaram a desaparecer. Nessa altura, resolveu rogar ajuda ao rapaz que, por sua vez, recorreu ao seu ente paterno. Os humanos trocaram a água do receptáculo e tudo melhorou. O vermelho usou a conjuntura para mostrar aos da cor do céu que a culpa não era do negro. Entre todos floresceu uma bela relação de afecto: que bom é vê-los agora a nadar todos contentes no seu espaço.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O recipiente de peixes | Lipograma


(exercício de rescrita de O Aquário, sem utilizar o "a")

O recipiente de peixes

Um peixinho vermelho e reluzente foi viver com os peixinhos cor do céu, porém foi excluído, por estes serem invejosos e ciumentos. Ele sentiu-se triste e começou por perder peso. Tempos depois surgiu um peixe negro com riscos vermelhos. Logo, logo entre eles surgiu um belo sentimento recíproco de desvelo. O grupo dos cerúleos peixinhos, com receio do negro, desistiu de comer. Tempos depois, o peixe negro ficou enfermo, posteriormente os cerúleos. Quem os socorreu foi o vermelho, mesmo sem todos o merecerem. O vermelho, contudo, ficou como os outros: doente. Porém, mesmo febril, conseguiu pedir socorro. O menino com o seu progenitor trocou o elemento líquido, incolor e inodoro do recipiente. O vigor dos descendentes de Neptuno voltou e o menino regozijou-se.Provou-se que de ninguém foi o erro: foi um simples desleixo. Por fim, voltou o entendimento e tudo ficou bem.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O Amante, de Marguerite Duras, por Jessica



O Amante conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos que vivem numa situação de falência na Indochina francesa, nos anos 30. O amor proibido da menina branca, que ainda não completou 16 anos, e a sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma de escapar à claustrofobia a da família.
É a jovem que descobre o poder da sua própria beleza e da sua sexualidade e que , desde o início, domina a relação com ele.


Duras, Marguerite, (trad.: Luísa Costa Gomes e Maria da Piedade Ferreira), O Amante, Difel, 1984

A Relíquia, de Eça de Queirós, por Sandra Sousa


A Relíquia conta-nos a história de Teodorico Raposo. Teodorico vivia com uma velha tia, rica e muito devota. Por influência de um amigo, Dr. Margaride, decide aproximar-se da tia Patrocinio e traçar uma estratégia para herdar a fortuna da velha senhora, mostrando-se, para tal, mostra-se (falsamente) religioso e devoto.
Pede à tia que lhe financie uma viagem a Paris, mas esta recusa-se terminantemente afirmando que Paris era a cidade do vício e da perdição. Teodorico pede, então, para fazer uma peregrinação à Terra Santa. A tia consente e pede que lhe traga uma recordação. Teodoro, na viagem, envolve-se com uma inglesa – Mary – que, como recordação dos momentos que passaram juntos, lhe dá um embrulho com a sua camisa de noite. Chegado à Palestina, Raposo continua a sua vida profana e amoral.
Antes de regressar, Teodorico lembra-se do pedido da tia e corta uns ramos de um arbusto e tece com estes uma coroa, que embrulhou e pôs na sua bagagem.
Entretanto, uma pobre mendiga pede-lhe esmola e ele deu-lhe o embrulho que (pensava ele) continha a camisa de Mary.
Chegado a Lisboa, relata, hipocritamente, à tia todas as penitências e jejuns que fizera durante a peregrinação e oferece-lhe o embrulho, dizendo que este continha a coroa de espinhos. A abertura da suposta relíquia faz-se perante uma imensa audiência de sacerdotes e beatas, num ambiente de ansiedade. Qual o espanto de todos quando, em vez do sagrado objecto, surge a camisa de noite de Mary.


Queirós, Eça de, A Relíquia

O Nariz , de Nikolai Gogol, por Juliana Monteiro


O Nariz é um pequeno conto humorístico de Nikolai Gogol. O conto fala-nos major Kovalióv , um homem, que numa qualquer manhã, acorda e e descobre que seu nariz desapareceu.. Como é uma figura pública importante, decide procurar o seu nariz. Descobre, então, o seu nariz caminhando apressado e vestido com um uniforme bordado a ouro. In terpela-o, mas o nariz ignora-o….


“Ivan Iákovlevitch vestiu, por respeito das conveniências, a casaca por cima da camisa e, sentado-se à mesa, serviu-se de sal, preparou duas cebolas, pegou na faca e, com uma expressão eloquente na cara, pôs-se a cortar o pão. Ao abri-lo ao meio, olhou para o miolo e, surpresa sua, viu algo esbranquiçado. Escavou cuidadosamente com a faca e apalpou com um dedo. "É duro,- disse para si. - Que poderá ser?". Enfiou os dedos e tirou - um nariz!...Caiu das nuvens; esfregou os olhos e começou a apalpar: nariz, nariz de certeza! Ainda por cima de alguém conhecido, parecia-lhe. Desenhou-se o terror no rosto de Ivan Iákovlevitch." (pg. 26)


Gógol, Nikolai, (trad. Filipe Guerra e Nina Guerra) O Nariz, Assírio & Alvim, 2000



domingo, 10 de fevereiro de 2008

Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector



Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector



A escrita e a estrutura deste livro, a princípio, estranha-se, pois rompe com as convenções a que estamos habituados (o livro começa com uma vírgula).Trata-se da história de Ulisses, professor de filosofia, e Loreley, uma professora do ensino primário. Embora estejam unidos por uma forte paixão, decidem assumir um compromisso apenas quando estiverem preparados para tal. Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres é um romance de aprendizagem, no qual Lorely é ensinada por Ulisses a dar um maior valor à vida, a amar, a a ultrapassar a ausência e o silêncio.


Juliana Monteiro

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quando atravessares o rio, de Ana Teresa Pereira


"A poder falar-se d um efeito “eternidade”, tão preciso e intenso como a luz que de um ícone escuramente emana, teríamos de o detectar na obra de Ana Teresa Pereira. À margem, claro, de fáceis misticismos ou de reconhecíveis engrenagens religiosas, pois não é disso que se trata, mas antes de um cada vez mais asfixiante e depurado continuum. A autora, acrescente-se, sabe-o bem melhor do que nós: “As suas personagens eram sempre as mesmas: uma mulher um pouco parecida com ela e um homem mais velho chamado Tom” (pág. 48). Desta vez, Tom quase chega a ter um rosto, talvez o de Jeremy Irons, assumido agora como o “actor nos seus livros”. Mas pouco importa, afinal, a substância de que são feitos Tom ou Katie Dylan, cujos duplos teimam em assombrar estas páginas inquietantes. Abate-se sobre Quando atravessares o rio uma espécie de beleza terminal, inexorável. Este poderia muito bem ser o último – ou o primeiro – livro de Ana Teresa Pereira, ao confrontar-nos com questões tão irresolúveis quanto raramente formuladas:
“O que acontece às personagens quando o autor vai embora?
“Os livros de um escritor estão contados. E depois ele fica sozinho com os seus demónios. Ela mesma escrevera essas palavras, alguns anos atrás” (pág. 20).
Dir-se-ia que a “autobiografia” irrompe, neste livro, ainda menos veladamente do que em obras anteriores: “[Katie] queria ser uma grande escritora, não queria fazer mais nada na vida” (pág. 25). Já sabemos que isso – em Portugal – é o menos realizável dos projectos, a não ser que se tenha agentes literários e uma evidente pobreza de espírito, dócil e exportável. No entanto, é esse o quase impossível desígnio de Katie: “esculpir no gelo”, afastar-se solitariamente do esplendor frívolo do cimento dominante. A suspeita de uma crise ou de um impasse revela-se, porém, indissociável de uma extrema e desapiedade lucidez: “Deitar-se na neve para morrer. Como ele. // Mas a neve era muito pouca” (pág. 24). Uma escrita deste calibre, com tudo o que tem de obsessivo e de inalienável, obriga-nos a ficar “algures do outro lado das palavras” (pág. 55). Como se, de falésia em falésia, só o susto e a derrota – no que estes possam ter de júbilo ou celebração – fizessem ainda algum sentido, à sombra de um nome indomavelmente próprio: “Fingir dá muito trabalho. Eu prefiro ser". (pág. 67)." por Manuel de Freitas

O Tiago e a Juliana já leram e gostaram.

Quem quer casar com a poetisa?, de Adília Lopes



Quem quer casar com a poetisa?, é uma antologia poética de Adília Lopes, organizada por valter hugo mãe, organizada em quinze capítulos, que procuram traçar um percurso afectivo adiliano.
Esta obra mostra-nos que a poesia não é, obrigatóriamente, doce e romântica: às vezes é crua e cruel. Cada poema de Adília esconde uma pequena história.


Lopes, Adília Quem quer casar com a poetisa?, (selecção, organização e prefácio de valter hugo mãe), Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão.
Juliana Monteiro, 10ºD