terça-feira, 1 de abril de 2008

Diário de um Louco, de Gogol, por Juliana Monteiro

Diário de um Louco, de Gogol

Trata-se de uma história escrita na primeira pessoa, uma vez que é um diário, onde assistimos ao delírio e fragmentação da identidade do personagem principalComo em todos os contos de Gogol, predomina também aqui uma mistura de real e de fantasia. Enquanto leitora, este conto trouxe-me alguma "amargura" por estar a assistir ao sofrimento da personagem.
"Como tem a forma de diário, este é o único livro de ficção do autor escrito na primeira pessoa. O herói, o eterno funcionário miserável de Gógol, assume em Diário de Um Louco, apesar e, talvez, por causa do delírio psicótico em que se refugia, contornos muito humanos e comoventes. Como sempre, a arte gogoliana de misturar o real e o fantástico, o normal e o patológico, o razoável e o delírio, imperam em Diário de Um Louco, a ponto de o leitor se sentir desconfortavelmente a assistir ao sofrimento de um ser humano a quem a identidade se vai estilhaçando com a rapidez e a intensidade de um pequeno conto."
(excerto da introdução, Filipe Guerra)


Juliana Monteiro

sexta-feira, 7 de março de 2008

Semana da Leitura


Aquário Outro: uma leitura encenada pelo grupo de teatro orientado pela prof. Maria José Osório.
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quinta-feira, 6 de março de 2008

Último ensaio

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O auditório


O auditório já está um aquário...
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domingo, 2 de março de 2008

Algas


As algas de Animação Sociocultural continuam os ensaios....
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A casa dos seres que possuem guelras em vez de pulmões


(exercício de rescrita de O Aquário, sem utilizar o "i")



Num belo espaço repleto de água, moravam três seres da cor do mar, com guelras que em vez de pulmões. Nadavam os três sempre contentes, até que o dono do receptáculo, um jovem rapaz trouxe um novo ser com escamas e guelras para as mesmas águas. Era um belo ente vermelho e luzente, porém a sua beleza trouxe-lhe contratempos. Ele nadava sempre só e não se chegava ao sustento, com medo dos outros três. Ele estava quase já só uma sombra, quando chegou um novo morador. Tratava-se de um ser grande, sabedor, negro e com duas barras vermelhas. Depressa, se tornaram bons colegas. Almoçavam e folgavam juntos, para grande mágoa dos outros três. Mas algo correu mal e os seres de escamas e guelras adoeceram. Só o vermelho aguentou e ajudou todos os outros. Ele esfalfava-se a tentar amparar todos, mas as suas forças começaram a desaparecer. Nessa altura, resolveu rogar ajuda ao rapaz que, por sua vez, recorreu ao seu ente paterno. Os humanos trocaram a água do receptáculo e tudo melhorou. O vermelho usou a conjuntura para mostrar aos da cor do céu que a culpa não era do negro. Entre todos floresceu uma bela relação de afecto: que bom é vê-los agora a nadar todos contentes no seu espaço.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O recipiente de peixes | Lipograma


(exercício de rescrita de O Aquário, sem utilizar o "a")

O recipiente de peixes

Um peixinho vermelho e reluzente foi viver com os peixinhos cor do céu, porém foi excluído, por estes serem invejosos e ciumentos. Ele sentiu-se triste e começou por perder peso. Tempos depois surgiu um peixe negro com riscos vermelhos. Logo, logo entre eles surgiu um belo sentimento recíproco de desvelo. O grupo dos cerúleos peixinhos, com receio do negro, desistiu de comer. Tempos depois, o peixe negro ficou enfermo, posteriormente os cerúleos. Quem os socorreu foi o vermelho, mesmo sem todos o merecerem. O vermelho, contudo, ficou como os outros: doente. Porém, mesmo febril, conseguiu pedir socorro. O menino com o seu progenitor trocou o elemento líquido, incolor e inodoro do recipiente. O vigor dos descendentes de Neptuno voltou e o menino regozijou-se.Provou-se que de ninguém foi o erro: foi um simples desleixo. Por fim, voltou o entendimento e tudo ficou bem.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O Amante, de Marguerite Duras, por Jessica



O Amante conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos que vivem numa situação de falência na Indochina francesa, nos anos 30. O amor proibido da menina branca, que ainda não completou 16 anos, e a sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma de escapar à claustrofobia a da família.
É a jovem que descobre o poder da sua própria beleza e da sua sexualidade e que , desde o início, domina a relação com ele.


Duras, Marguerite, (trad.: Luísa Costa Gomes e Maria da Piedade Ferreira), O Amante, Difel, 1984

A Relíquia, de Eça de Queirós, por Sandra Sousa


A Relíquia conta-nos a história de Teodorico Raposo. Teodorico vivia com uma velha tia, rica e muito devota. Por influência de um amigo, Dr. Margaride, decide aproximar-se da tia Patrocinio e traçar uma estratégia para herdar a fortuna da velha senhora, mostrando-se, para tal, mostra-se (falsamente) religioso e devoto.
Pede à tia que lhe financie uma viagem a Paris, mas esta recusa-se terminantemente afirmando que Paris era a cidade do vício e da perdição. Teodorico pede, então, para fazer uma peregrinação à Terra Santa. A tia consente e pede que lhe traga uma recordação. Teodoro, na viagem, envolve-se com uma inglesa – Mary – que, como recordação dos momentos que passaram juntos, lhe dá um embrulho com a sua camisa de noite. Chegado à Palestina, Raposo continua a sua vida profana e amoral.
Antes de regressar, Teodorico lembra-se do pedido da tia e corta uns ramos de um arbusto e tece com estes uma coroa, que embrulhou e pôs na sua bagagem.
Entretanto, uma pobre mendiga pede-lhe esmola e ele deu-lhe o embrulho que (pensava ele) continha a camisa de Mary.
Chegado a Lisboa, relata, hipocritamente, à tia todas as penitências e jejuns que fizera durante a peregrinação e oferece-lhe o embrulho, dizendo que este continha a coroa de espinhos. A abertura da suposta relíquia faz-se perante uma imensa audiência de sacerdotes e beatas, num ambiente de ansiedade. Qual o espanto de todos quando, em vez do sagrado objecto, surge a camisa de noite de Mary.


Queirós, Eça de, A Relíquia

O Nariz , de Nikolai Gogol, por Juliana Monteiro


O Nariz é um pequeno conto humorístico de Nikolai Gogol. O conto fala-nos major Kovalióv , um homem, que numa qualquer manhã, acorda e e descobre que seu nariz desapareceu.. Como é uma figura pública importante, decide procurar o seu nariz. Descobre, então, o seu nariz caminhando apressado e vestido com um uniforme bordado a ouro. In terpela-o, mas o nariz ignora-o….


“Ivan Iákovlevitch vestiu, por respeito das conveniências, a casaca por cima da camisa e, sentado-se à mesa, serviu-se de sal, preparou duas cebolas, pegou na faca e, com uma expressão eloquente na cara, pôs-se a cortar o pão. Ao abri-lo ao meio, olhou para o miolo e, surpresa sua, viu algo esbranquiçado. Escavou cuidadosamente com a faca e apalpou com um dedo. "É duro,- disse para si. - Que poderá ser?". Enfiou os dedos e tirou - um nariz!...Caiu das nuvens; esfregou os olhos e começou a apalpar: nariz, nariz de certeza! Ainda por cima de alguém conhecido, parecia-lhe. Desenhou-se o terror no rosto de Ivan Iákovlevitch." (pg. 26)


Gógol, Nikolai, (trad. Filipe Guerra e Nina Guerra) O Nariz, Assírio & Alvim, 2000



domingo, 10 de fevereiro de 2008

Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector



Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector



A escrita e a estrutura deste livro, a princípio, estranha-se, pois rompe com as convenções a que estamos habituados (o livro começa com uma vírgula).Trata-se da história de Ulisses, professor de filosofia, e Loreley, uma professora do ensino primário. Embora estejam unidos por uma forte paixão, decidem assumir um compromisso apenas quando estiverem preparados para tal. Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres é um romance de aprendizagem, no qual Lorely é ensinada por Ulisses a dar um maior valor à vida, a amar, a a ultrapassar a ausência e o silêncio.


Juliana Monteiro

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quando atravessares o rio, de Ana Teresa Pereira


"A poder falar-se d um efeito “eternidade”, tão preciso e intenso como a luz que de um ícone escuramente emana, teríamos de o detectar na obra de Ana Teresa Pereira. À margem, claro, de fáceis misticismos ou de reconhecíveis engrenagens religiosas, pois não é disso que se trata, mas antes de um cada vez mais asfixiante e depurado continuum. A autora, acrescente-se, sabe-o bem melhor do que nós: “As suas personagens eram sempre as mesmas: uma mulher um pouco parecida com ela e um homem mais velho chamado Tom” (pág. 48). Desta vez, Tom quase chega a ter um rosto, talvez o de Jeremy Irons, assumido agora como o “actor nos seus livros”. Mas pouco importa, afinal, a substância de que são feitos Tom ou Katie Dylan, cujos duplos teimam em assombrar estas páginas inquietantes. Abate-se sobre Quando atravessares o rio uma espécie de beleza terminal, inexorável. Este poderia muito bem ser o último – ou o primeiro – livro de Ana Teresa Pereira, ao confrontar-nos com questões tão irresolúveis quanto raramente formuladas:
“O que acontece às personagens quando o autor vai embora?
“Os livros de um escritor estão contados. E depois ele fica sozinho com os seus demónios. Ela mesma escrevera essas palavras, alguns anos atrás” (pág. 20).
Dir-se-ia que a “autobiografia” irrompe, neste livro, ainda menos veladamente do que em obras anteriores: “[Katie] queria ser uma grande escritora, não queria fazer mais nada na vida” (pág. 25). Já sabemos que isso – em Portugal – é o menos realizável dos projectos, a não ser que se tenha agentes literários e uma evidente pobreza de espírito, dócil e exportável. No entanto, é esse o quase impossível desígnio de Katie: “esculpir no gelo”, afastar-se solitariamente do esplendor frívolo do cimento dominante. A suspeita de uma crise ou de um impasse revela-se, porém, indissociável de uma extrema e desapiedade lucidez: “Deitar-se na neve para morrer. Como ele. // Mas a neve era muito pouca” (pág. 24). Uma escrita deste calibre, com tudo o que tem de obsessivo e de inalienável, obriga-nos a ficar “algures do outro lado das palavras” (pág. 55). Como se, de falésia em falésia, só o susto e a derrota – no que estes possam ter de júbilo ou celebração – fizessem ainda algum sentido, à sombra de um nome indomavelmente próprio: “Fingir dá muito trabalho. Eu prefiro ser". (pág. 67)." por Manuel de Freitas

O Tiago e a Juliana já leram e gostaram.

Quem quer casar com a poetisa?, de Adília Lopes



Quem quer casar com a poetisa?, é uma antologia poética de Adília Lopes, organizada por valter hugo mãe, organizada em quinze capítulos, que procuram traçar um percurso afectivo adiliano.
Esta obra mostra-nos que a poesia não é, obrigatóriamente, doce e romântica: às vezes é crua e cruel. Cada poema de Adília esconde uma pequena história.


Lopes, Adília Quem quer casar com a poetisa?, (selecção, organização e prefácio de valter hugo mãe), Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão.
Juliana Monteiro, 10ºD

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Era de inverno, Joaquim Manuel Magalhães


Era de inverno, em Vila Real. A neve
cobria as ruas que levavam ao liceu.
Dentro da confeitaria, as luvas de cabedal
no tampo do vidro, o vapor da respiração
ligava-nos entre as conversas de mesa indiferentes.
E querias olhar para mais dentro de mim.


Os pombos escondidos nos beirais tapavam
a cabeça na plumagem de chumbo, cor do céu.
Calados, afeitos ao silêncio, enlaçámos
em cada um dos nossos livros a primeira letra
dos nossos nomes, de modo a desenharem
uma única letra que não havia em alfabeto nenhum.

Que bem que estávamos tão mal ali sentados,
a faltar às aulas, nessa primeira vez
em que nos acontecia, sem sabermos, um amor.
Tu não ias adivinhar as leis secretas
que já nos separavam. Tu não podias
lutar na via de sangue da minha vida.
Mas sempre que tombar neve em Vila Real
e desceres a avenida a caminho do café
de alguma destas coisas, quem sabe, te hás-de lembrar.

Joaquim Manuel Magalhães